quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Um sonho em inglês

Pela primeira vez tive um sonho em inglês. Dizem que quando alguém sonha em outra língua é sinal de que esse idioma realmente entrou na cabeça da pessoa. Talvez isso seja verdade, pois já acumulamos mais de duas semanas convivendo intensamente com o inglês e a evolução é perceptível, inclusive nos amigos que me acompanham. A prática do idioma só não é presente durante o dia inteiro por que estamos em um grupo de brasileiros e, assim como fomos previamente avisados, isso acaba prejudicando um pouco esse aprendizado.

Quando estávamos no Brasil, havíamos feito um acordo para falarmos apenas em inglês. Eu não achava que conseguiríamos e de fato isso não rolou. Eu diria que em 50% do tempo em que ficamos juntos conseguimos manter uma conversação em inglês, mas no restante do tempo acabamos deixando o acordo de lado, seja por cansaço seja por não sabermos como nos expressar em certas situações. Por isso, o meu conselho para quem for viajar com o objetivo principal de aprender outra língua é que o ideal é não ir com pessoas que falem o mesmo idioma. No entanto, caso não se queira abrir mão dessas companhias, há algumas maneiras de ter uma passagem mais produtiva por outro país. Uma delas é tentar fazer um acordo como o que fizemos, mas é difícil de cumprir. Outra é evitar pessoas que falem a mesma língua, conheci uma paulista no curso de inglês que veio para Sydney comprometida em não fazer amizades com brasileiros. Talvez isso seja muito radical ou até pode parecer meio anti-social, mas não deixa de ser um modo de aumentar o aprendizado. A escola, aliás, é sim fundamental para aprender o inglês, mesmo que muitos pensem que seja apenas um motivo para viver no outro país. Afinal, não basta conseguimos nos comunicar, temos que saber falar corretamente.

Eu não evito fazer amizades brasileiras, tampouco consigo falar apenas em inglês com meus amigos brasileiros. No entanto, tenho o meu modo de viver um pouco mais o inglês. No Brasil, eu sempre curti ter o meu tempo sozinho, dar voltas e conhecer coisas por mim mesmo. Eu uso isso aqui em Sydney como uma maneira de escapar do português. Hoje entrei em contato com o gerente da pizzaria italiana no qual fiz o teste no sábado e descobri que ele adiou a escolha do novo garçom. Por isso, resolvi usar a tarde para ficar sozinho e dar mais uma vasculhada na cidade atrás de emprego. Durante horas, fui a diferentes pontos da cidade entregando o meu currículo e conversando com gerentes de estabelecimentos. A cada parada que eu fazia para pegar um ônibus ou para fazer um lanche, eu conversava com alguém, nem que fosse para pedir informação. Não precisa ser um australiano, basta ser alguém que não fale a minha língua. Às vezes, conversar com um indiano ou com um turco é mais interessante do que com alguém nascido aqui, pois exige que eu tenha um ouvido afiadíssimo para entender o sotaque estranho deles.

Uma dessas conversas foi longa. Uma coreana de uns 24 anos me pediu informação quando eu estava na parada de ônibus. Iríamos pegar o mesmo ônibus e teríamos que esperar durante 30 minutos, tempo que ocupamos batendo um papo. Além de ter uma conversa agradável, pude perceber alguns tipos de erros que ela cometia e usar isso para corrigir os meus. Descobri a história de alguém que saiu do país por uma briga de família e conseguiu, ainda jovem, construir uma vida sozinha em outro continente. Fiquei surpreso com a facilidade que ela tinha de abrir detalhes da sua história a alguém estranho. Ela contava as dificuldades pelas quais passou demonstrando uma maturidade tão admirável quanto seus olhos puxados. Pude conhecer pessoalmente muito mais do que eu conheceria vendo um filme coreano em que dificilmente a história seria tão bonita. É em momentos como esse que percebo o quanto é rica uma experiência como essa. Pena que, quando menos esperávamos, havíamos chegado à parada dela e tivemos de nos despedir. Depois de andar a tarde toda, eu iria para casa dormir. Quem sabe não teria mais um sonho em inglês, dessa vez com uma bela coreana de 24 anos.

Um comentário:

  1. Mas voces tão que tão com as coreanas ein :D
    ushauhsauhsuahusa
    Brincadeira... sei que a diversidade ai é enooooorme, com gente do mundo todo... (e no fundo no fundo eu gostaria de faze essa viagem também, mas acho que eu ficaria menos tempo...)

    Espero que vocês (principalmente tu e o Alemão) encontrem logo algum lugar legal pra trabalhar... pq trabalhar fora, num lugar que tu não gosta é foda... to torcendo por voces, seus malas!
    Sorte aí e se cuidem.
    Manda um beijo pro alemão (ou um abraço.. hehe)

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