sexta-feira, 30 de março de 2012

Viagem pela costa - parte 6 - Airlie Beach, Elizabeth e a vontade de ficar mais

Se pudéssemos perder o ônibus de hoje para ficar mais por aqui seria bom demais! Será que poderíamos pegar a estrada só amanhã?

Buscávamos nossas mochilas quando João lançou a pergunta. Ele sentia o mesmo que Nick e eu. Teríamos o dia seguinte livre em Cairns e estávamos encantados por Airlie Beach.

A praia da cidade é imprópria para banho. Há quem diga que tubarões, águas-vivas e até crocodilos de água salgada habitam a orla, informações sem muita credibilidade. Preferimos não conferir a veracidade dos boatos. De qualquer maneira, uma incrível lagoa artificial satisfazia a vontade dos banhistas.

Durante todo o dia, a lagoa era frequentada por 
famílias. As crianças dominavam o local e davam a impressão de que a cidade era balneário com público mais tranquilo, não parecia um lugar badalado como Byron Bay ou Surfers Paradise. Não demorou, porém, para provar ser mais um ponto de backpackers. 
Era domingo. Os jovens descansavam após um agitado sábado. Bastou entrarmos no hostel no final da tarde para vermos a quantidade de viajantes da nossa faixa etária que estava por lá. Eles seriam o principal motivo de querermos ficar ao menos mais um dia em Airlie Beach.

Antes de anoitecer, já estávamos enturmados em meio a alguns europeus. Na hora de saírmos, o grupo era grande e, assim como em Noosa, predominantemente alemão. A movimentação noturna quebrou completamente a primeira impressão a respeito do público frequentador de Airlie Beach. Jovens animados circulavam entre as poucas baladas da pequena rua principal. Dominavam a área central da cidade e criavam um clima vibrante e muito positivo. A noite foi longa e o sono seria curto, visto que o alarme despertaria às seis horas da manhã. Acordaríamos a tempo de conhecer o principal atrativo da região, o arquipélago de Withsundays.

Whitehaven Beach
Quase cinquenta pessoas sobre o barco Camira. Jovens mochileiros, casais e famílias inteiras percorreriam as 74 ilhas, passariam por resorts isolados em meio às águas oceânicas, praticariam snorkeling, almoçariam após uma hora na paradisíaca Whitehaven Beach e retornariam encantados com toda aquela natureza. Um dia inteiro de muito sol, boas companhias e água verde.

Foi a oportunidade perfeita para conhecer Elizabeth, uma francesa de longos cabelos negros e olhos não menos verdes do que a água por onde navegávamos. Ela seria a última pessoa marcante da viagem. Era a definição daqueles com quem convivíamos durante poucos e intensos dias de estrada. Levava uma vida de viajante sem ter hora para voltar para casa. Conseguia empregos temporários que garantiam sua permanência e a ida para os destinos seguintes. Fora professora de inglês na Espanha antes de chegar a Airlie Beach e trabalhar em lancherias. Iria para Sydney e Melbourne, onde tentaria juntar dinheiro para seguir seu rumo até a América do Sul. Ainda imagina voltar para casa e fazer mestrado em sua área, mas diz não ter pressa ainda aos 23 anos. Acredita, porém, que não há mestrado que ensine tanto quanto o que ela vem aprendendo pelo mundo.

Infelizmente, o diálogo com a francesa só começou quando iniciávamos o retorno para Airlie. Mas poucas horas de contato com a simpatia de Elizabeth já foram suficientes para perceber seu prazer contagiante pela vida e conhecer sua incrível história. Assim, aquele dia inesquecível sobre o convés da embarcação ficava completo.
Ainda haveria algumas horas entre o desembarque do Camira e o check out no hotel. Tempo para despedidas e para buscarmos as mochilas.

- João, se eu pudesse escolher uma cidade para ficar um dia a mais, não pensaria duas vezes antes de falar Airlie Beach. Mas, pensando bem, se melhorar estraga - respondemos a João.