sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A ida à Bronte Beach

O "churrasco" havia acabado, alunos e professores começavam a voltar. A animação não era das maiores depois do almoço decepcionante. Estávamos saindo quando ouvimos uma frase indesejada vinda de trás, distante de nós.

- Hi, how are you!?

Não sabíamos exatamente de onde vinha aquela voz, mas já havíamos descoberto de quem era. Só poderia ser da turca que conhecemos no primeiro dia de aula. Ela estuda em outra classe, mas todos os dias passa por nós, faz a mesma pergunta e, normalmente, vai embora. Entre mim e os guris ela já tem um apelido: 'How are you'. Se a presença dela se resumir a isso, tudo bem. O problema é quando ela não vai embora e resolve bater um papo. Depois de ouvir a famosa frase, eu e o Murillo nos olhamos como que pensando: lá vem ela...

- Vocês são brasileiros ou colombianos? - perguntou.
- Brasileiros - respondemos impacientes. Como ela não saberia de onde somos?! Parece uma amigona pelo jeito que nos comprimenta todo santo dia e sequer sabe a nossa nacionalidade!
- Bem que eu imaginei! Então deixa eu apresentar umas amigas brasileiras pra vocês! - pela primeira vez ela nos despertava alguma atenção. Rapidamente ja estávamos prestes a perdoar toda a impertinência dela.

A turquinha chamou duas gurias que eram novas no curso, as quais realmente ainda não conhecíamos. Havia menos de duas semanas que Mariana e Bruna tinham chegado a Sydney. A primeira era paulista. A segunda não apenas era gaúcha, como morava em Porto Alegre, era gremista e estudava na mesma universidade que nós. Como se não bastasse, descobrimos que ela morava no mesmo condomínio que nós aqui em Sydney. Logo, estávamos conversando com as novas conhecidas e a turquinha havia ficado para trás com os outros colegas.

- O que vocês vão fazer agora? - perguntamos.
- Vamos andar um pouco, estamos indo até a city - a Bruna respondeu.
- Se não estivesse tão quente acho que iríamos com vocês, mas será que ir à praia não seria melhor? - sugeri.

Elas concordaram, voltaríamos todos para casa, vestiríamos bermudas e biquinis e aproveitaríamos o resto da tarde de sol intenso na praia. Perfeito. Escolhemos Bronte, uma praia que apenas eu conhecia. Passados 40 minutos e dois trens, logo estávamos no ônibus, a caminho de Bondi Beach. A partir de lá, faríamos um trajeto agradabilíssimo pela costa, passaríamos por uma segunda praia até chegarmos a Bronte. Ainda no ônibus, enquanto conversava com Murillo e com as gurias, um senhor do meu lado ouviu a nossa conversa e perguntou, em português, de onde eu era. 

- Sou do Brasil, de Porto Alegre. E o senhor? - respondi ao simpático velhinho
- Venho de São Paulo. Estou visitando meu filho, ele mora aqui há quatro anos, está fazendo faculdade e trabalhando em um café próximo aqui de Bondi. Quantos anos você tem? - perguntou.
- Tenho 20 anos. Cheguei aqui há menos de um mês - contei

Nos dez minutos anteriores à nossa chegada em Bondi, tive uma conversa interessantíssima com aquele senhor. Ele, aposentado e com a vida financeiramente garantida, passaria dois meses na Austrália. Pelo menos uma vez por ano, passava um tempo por aqui. Seu filho estava bem-sucedido viajando. Ele, da mesma maneira, tinha a vida feita. Eu não pensaria que faltaria algo a alguém assim. Porém, notei nele um olhar triste. Olhos de saudade. Talvez morar longe do filho o deixasse daquele jeito. Ele parecia ter dificuldade de conviver com essa distância. Contou-me que seu filho tem 22 anos. Portanto, chegara na Oceania com 18 anos.

Me surpreendi pela fisionomia do homem. Ele parecia ser velho demais para ter um filho de apenas 22 anos. Em seguida, descobri que tem, na verdade, dois filhos, o outro com 23 anos. Eu pensava que isso tavez amenizasse a dificuldade da distância, até que ele me contou que o outro vivia em Melbourne havia mais de um ano. Acho que estava explicado, o que lhe faltava era seus filhos. Jerônimo era o nome daquele pai que tanto me fazia perguntas. Ele estava interessado em descobrir como eu estava vivendo. Queria saber por que tipos de dificuldades eu passo aqui, se eu consigo me alimentar bem, se dá para me virar com o meu próprio dinheiro. Perguntas típicas de um pai preocupado. Provavelmente ele queria ver se eu confirmaria as respostas que seus filhos davam sobre a vida longe de casa. Procurei responder de uma maneira positiva, explicar que muitas pessoas se apaixonam pelo lugar e conseguem iniciar uma vida feliz aqui. Tentei tranquilizá-lo, provavelmente em vão. Se depois de quatro anos ele parecia não ter se adaptado, não seria em 10 minutos de conversa que eu mudaria alguma coisa.

Antes de me despedir de Jerônimo, questionei sobre a possibilidade de ele vir morar na Austrália com seus filhos. Ele contou que a idade já não permitia, estaria velho demais e com a vida estabelecida no Brasil para fazer uma loucura daquelas. Não entendo por que tanta gente acha que a idade é um limitador, por que seria tarde demais para isso? Não insisti mais no assunto e me despedi, não cabia a mim me meter naquele ponto. Seguimos para a praia. O sol, infelizmente, havia se escondido e ficaria assim pelo resto da tarde. Sem problemas, o passeio compensaria o tempo. Murillo e as gurias mal começaram a caminhada e já perguntavam quanto tempo faltaria para chegar a Bronte. Foi assim durante boa parte do percurso, que não era tão longo. Quem poderia se importar por caminhar alguns minutos, talvez meia-hora, tendo uma vista maravilhosa como aquela? Talvez eu não estivesse com as companhias ideais para aquele passeio. Mas a tarde foi boa, logo chegamos a Bronte, tomamos um bom banho de mar e tivemos agradáveis conversas até começar a escurecer.

A sugestão que tenho hoje já é manjada, ir de Bondi Beach até a praia de Bronte caminhando pela costa, mas o mais importante é ir com a pessoa certa. Fiz esse trajeto lembrando da conversa com aquele pai no ônibus e imaginando que companhia alguma para aquele programa seria melhor do que a dos meus pais. Quem sabe um dia, por que não?


Quase no meio do caminho. Bondi já ficava pequena.
O resto do trajeto. A última faixa de areia, Bronte. Antes, a praia deTamarama.

Passando por Tamarama.
Destino final, Bronte. Ainda com céu nublado.

5 comentários:

  1. Se esse senhor ainda fica apreensivo com o filho que mora ai desde os 18 anos... imagina os pais de vocês como tão? e ó que não faz nem um mês que vcs tão ai... suahuhsuasa
    Manda bejo pro alemão! :D

    ResponderExcluir
  2. Que coisa linda esse post Dani! Me apaixonei por ti! aposkpaoksaposkaposk caminharia contigo numa boa, de mãos dadas, conversando sobre a vida, dando boas risadas e sem reclamar... que vista linda!

    ResponderExcluir
  3. Achei muito legal suas postagens.. na verdade comecei a ler mesmo hoje. Li umas 6 ou 7 postagens, teu português é muito bom! E as histórias detalhe por detalhe, até as falas das pessoas.. isso é o que incentiva a continuar a leitura até o final para saber como acabou o dia.

    Peço apenas uma coisinha, sempre que puder, dê uma dica, pro pessoal que tem o interesse de ir estudar no exterior, a sua primeira dica já vou anotar pra não esquecer: " o meu conselho para quem for viajar com o objetivo principal de aprender outra língua é que o ideal é não ir com pessoas que falem o mesmo idioma."

    ResponderExcluir
  4. A distância é grande e difícil, mas o importante é que estamos sempre juntos em pensamento e força, torcendo e participando da vida uns dos outros, com muito amor e carinho. beijos ariane e rogério

    ResponderExcluir
  5. Muito obrigado pelos comentários, pelos elogios e sugestões. Críticas também são bem-vindas. Já comecei a adotar a sugestão de sempre dar uma dica útil para quem estiver afim de viajar. Ganhar um comentário dos pais também foi uma bela surrpesa. Déia, o beijo já foi enviado para o Nick e ele foi recíproco. Eu adoraria saber quem foi a responsável pelo segundo comentário. Quando comentarem, procurem se identificar para eu saber, por exemplo, quem se apaixonou por mim, afinal essa proposta de caminhada seria difícil de recusar hehehe
    Valeu, gente!

    ResponderExcluir