Chegamos lá suados depois de atravessar a cidade e subir avenidas sob um sol fortíssimo. Faltando dez minutos para o horário combinado, a decepção: o funcionário que estava abrindo a pizzaria não sabia de vaga alguma e disse que não poderia nos ajudar. Ele pediu que deixássemos os currículos e então os entregaria ao gerente. Ficamos sem ter o que falar, o possível primeiro emprego parecia ser mais uma sacanagem de alguém que acessou o site de ofertas de trabalho no qual nos registramos. Questionamo-nos sobre o que deveríamos fazer. Decidimos dar uma volta para tirar mais cópias dos currículos e então pedir emprego em outros lugares, já que estávamos bem vestidos e com tudo em mãos. Depois de andar, descobrimos que Surry Hills é um bairro gay de Sydney. Casais de homossexuais e bares GLS predominavam pelas ruas.
Oxford St, ainda vazia, ornamentada com as cores GLS |
- Fui eu quem mandei os e-mails, só não contei aos demais empregados. Vocês estão juntos? - perguntou Cláudio, que se demonstrava simpático apesar do ar de seriedade.
- Sim, moramos na mesma casa. Somos amigos e todos recebemos o e-mail - respondi.
- Ok, então estejam aqui às 19h que eu vou fazer um teste durante a noite. Vocês precisam usar uma camiseta assim - afirmou Cláudio, apontando para seu uniforme. - Mas eu só tenho uma vaga. Com o teste eu vou escolher quem for o melhor.
O gerente não quis falar qual seria o salário oferecido, achava cedo para contar.
Faltando uma hora e meia para o teste, teríamos que ir até o centro para comprar uma camiseta nova para cada um. No entanto, isso não era no que mais pensávamos, pois em instantes seríamos amigos competindo por uma vaga de emprego e apenas um iria conquistar. Se a amizade não fosse forte como é, seria uma situação complicada, mas levamos na esportiva e sabíamos que não haveria problemas. Independentemente de quem ganhasse, essa seria uma baita oportunidade e a chance de adquirir alguma experiência, a qual para nós só existia em nossos currículos um tanto distorcidos.
Conseguimos chegar na hora certa vestindo as nossas novas camisetas. A pizzaria tinha dezoito mesas e quatro funcionários, o Cláudio e mais três pessoas trabalhando na cozinha, todos italianos. Nessa noite, nós seríamos os garçons. Um começaria na frente da pizzaria, recebendo e levando os clientes às mesas. Os outros dois ficariam no pátio de trás (onde fica a maior parte das mesas). Lá, um faria os drinks e o outro serviria os clientes e tomava nota dos pedidos. Estávamos ansiosos para ver como nos sairíamos em uma função totalmente desconhecida.
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