domingo, 30 de janeiro de 2011

Mais um dia de Barbecue e de Bronte Beach

Nesse sábado, voltei a Bronte Beach. Lá seria o barbecue de despedida da minha vizinha eslovaca, Andrea, e da sua melhor amiga, Petra, da República Checa. Desta vez, fui sozinho. Peguei dois trens e um ônibus.  Ouvia a minha seleção muical no MP3 e, mais uma vez, curtia aquele trajeto entre Bondi e Bronte. Desta vez sob um sol fortíssimo e depois de mergulhar nas ondas de Bondi. Ficar sozinho é bom quando se sabe aproveitar. De qualquer modo, deveria me juntar a um bando de eslovacos assim que chegasse a Bronte.

O gramado onde as pessoas se encontram para curtir o sol e fazer churrasco estava tomado. Eu demorava para encontrar Andrea e Petra no meio de tanta gente. Me senti constrangido, Andra e seus amigos poderiam estar me observavando perdido e rindo da minha cara. Qualquer grito me chamando seria abafado pelo barulho do mar e daquelas centenas de pessoas. Eu usava a mão como viseira; os óculos escuros que sempre recusei faziam falta naquele momento. A dificuldade poderia ter sido reduzida se eu deixasse de ser teimoso e aceitasse usar óculos de grau para apurar a visão a longas distâncias. Eu tinha de chegar perto de cada grupo de pessoas para tentar reconhecer alguma das gurias que eu procurava.


Eu estava ficando com vergonha de mim. O constrangimento crescera depois de sete minutos dando voltas entre as pessoas no gramado, quando tirei o celular da mochila e atendi. Durante uns minutos eu falava, sorria e conversava confiante. Claro que não havia ninguém falando comigo ao telefone, aquele falso telefonema era apenas uma maneira de tentar amenizar aquela situação vergonhosa. Enquanto eu respondia perguntas imaginárias e questionava ninguém, eu continuava procurando as gurias. Funcionou, me senti menos ridículo durante uns dois minutos e, em seguida, identifiquei Andrea tirando os salgadinhos da sacola à minha frente. Notei que ela havia me visto, sorte que eu já estava com o celular junto à orelha.

- Mais um churrasco de salgadinhos e biscoitos! Ainda bem que comi em casa, não tive de gastar para trazer comida e não vou precisar me contentar com um mais um rango frustrante - pensei, ainda aliviado por finalmente encontrá-la.

Elas estavam com mais dez pessoas: dois colombianos, dois peruanos e uma francesa. Os demais eram da Eslováquia (mais uma vez me entusiasmava com uma nova situação de mistura cultural). Estavam todos se servindo quando perceberam que havia comida e bebida demais. Insistiram que eu comesse. Para a minha sorte, dois eslovacos vinham da churrasqueira carregando vários pratos com carne. Eu não poderia fazer tamanha desfeita, ofereceram como se fosse um presente. Com muito prazer, comi e bebi tanto quanto os outros ou talvez mais. Eu tinha de ter certeza de que não sobraria nada. Afinal, não gosto de desperdício.

Descobri que todos fazem churrasco lá por que basta levar a carne. As churrasqueiras podem ser usadas por qualquer um e não exigem espeto, carvão ou fogo. Elas, na verdade, são como chapas. Não são como as churrasqueiras com que estamos acostumados, mas quebram o galho. O que importa é que é fácil e todos podem usar, basta levar a carne, o óleo, os pratos e os talheres.

A disputada chapa para o barbecue em Bronte Beach
Eslovacas já no fim da tarde
Depois do rango, me chamaram para jogar futebol americano. Os eslovacos me deram a dica de como arremessar a bola. Fomos à parte do gramado em que todos praticam tudo que é tipo de esportes. Ficamos arremessando uns para os outros durante uns 30 minutos. Peguei o jeito, eu mandava bem inclusive nos arremessos longos, quando a bola chegava ao destino invariavelmente estável. No entanto, aquela bola oval não era o principal alvo da minha atenção. Poucos metros à minha direita, havia um grupo de italianos jogando futebol, o verdadeiro futebol. Eu olhava para a 'bola' de futebol americano somente na hora de arremesar ou para garantir que não seria atingido de surpresa por falta de atenção. Enquanto isso, eu colava meus olhos naquela bola formosamente redonda e torcia para que os italianos deixassem-na escapar para perto de mim. Aquilo sim era esporte!

Sempre que era possível eu me deslocava tentando me aproximar dos chinelos que demarcavam a goleira dos italianos. Eu já estava próximo de lá quando arremessei a bola oval para um dos eslovacos e, no mesmo instante, ouvi um grito em inglês com sotaque italiano.

- THE BALL, PLEASE!! - gritava o cara que havia chutado a bola.


A torcida pela vinda da bola havia funcionado. Chegava o tão esperado momento de bater nela da maneira que aqueles italianos haviam visto apenas na televisão. Os eslovacos, então, ficariam abismados com tamanha destreza. A bola não vinha exatamente para mim, ia na direção de um eslovaco não muito distante. Tentei, sem ser grosseiro nem afobado, tomar a frente e chegar nela antes que ela rolasse até o eslovaco. A melhor aproximação que pude fazer acabou sendo, na verdade, uma dividida brusca. Por pouco não derrubei o pobre eslovaco que só queria ser gentil e chutar de volta. Fiquei aliviado que ele não caiu e, principalmente, que a bola estava comigo. No entanto, o que realmente importava era que a bola voltaria ao campo dos italianos com mais qualidade e devidamente valorizada. 

Dominei com a parte inferior do pé e ergui a cabeça como um meio-campo dos velhos tempos buscando o centroavante para o lançamento perfeito. Lá estava ele, procurei o italiano que estivesse mais distante de mim. Levantei a bola, fiz duas embaixadas para curtir mais um pouco aquele material perfeita e geometricamente esférico. Devolvi ao chão, rolei 50 centímetros para a direita, sem olhar para baixo, mas com controle absoluto. Olhos fixos no centroavante. Bati por baixo dela com o peito do pé. Por não menos de 20 metros ela pairou no ar, sem girar. Outro italiano, bem mais próximo de mim, somente precisou levantar a perna para a bola encaixar entre a sola do pé e o chão. A bola não foi exatamente no italiano que eu havia escolhido, fora bem distante de onde eu havia previsto, mas pareceu um lancamento perfeito. Enganei bem enganado, assim como quando usei o celular, um tempo antes, para não parecer perdido.  

- Molto buono! Grazie mille! - Os italianos agradeceram, provavelmente encantados com tamanha elegância futebolística.

Satisfeito, eu poderia voltar para casa. Preferi tomar um banho de mar e deixar os eslovacos brincando com aquela bola sem graça. 

- Por que não moro na beira da praia? - questionei-me em meio às ondas. - Sou obrigado a passar por
uma jornada para chegar à praia, tomar um banho de mar, fazer churrasco e jogar futebol. Se eu morasse próximo do mar, eu poderia fazer tudo isso diariamente - imaginei.


Cheguei à conclusão de que o local onde estudo diminui as chances de morar próximo à praia. Eu gastaria muito tempo diariamente entre Bondi e a escola, por exemplo. Resolvi avaliar as possibilidades de praias menos distantes do curso. Quero aproveitar a possibilidade que tenho aqui de escolher um novo local para morar a cada mês para realizar vontades que sempre tive, como ter uma praia pertinho de casa. Se há algo que eu mudaria entre as escolhas que fiz para essa viagem, é o local onde estudo. A escola é boa, mas o ideal é estudar na city (o centro de Sydney). Se eu estudasse lá, eu poderia morar em qualquer lugar da cidade, pois haveria transporte direto entre a minha casa e o curso. Recomendo ir à Bronte para passar um dia inteiro e fazer churrasco. No entanto, a dica que passo hoje é a seguinte: quem quer ter mais liberdade para explorar a chance de morar em diferentes cantos de Sydney deve estudar no centro da cidade.

3 comentários:

  1. Experimente as praias do Norte: Manly, Dee Why, etc. Elas sao excelentes tb.

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  2. Aí Daniel... Demos muita risadas da tua postagem hoje.. Essa do celular e o chute errado que saiu certo foi muito bom... hahahaha
    Parabéns pelo blog. cada vez melhor!
    Abraço,
    Equipe da Go Study!

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  3. uhuhauhuahuahua teimoso, sempre te falei pra comprar oculos escuros ;) Eles sao bons, as vezes viu ;) Mas é um cabeção mesmo.. essa do celular foi boa...sabia que tem celulares, e o teu deve ter, que tu pode programar pra ele tocar em certo horario pra tu poder fingir exatamente em situacoes como essas? haha boa,nao?! E lendo o outro post, nao sei tb como é que alguem pode se preocupar com o horario estando em outro pais e de ferias ainda..ao inves de curtir o momento e aproveitar a paisagem..

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