segunda-feira, 21 de março de 2011

O jornal gratuito e a conversa no trem

Nesta segunda-feira, Ignácio saiu cedo do trabalho. Com a chuva insistente dos últimos dias, apenas oito clientes foram jantar no restaurante em que ele trabalha. Às 21h, o garoto estava liberado. Sentia-se satisfeito por voltar para casa antecipadamente, mas a noite parecia poder melhorar ainda mais.

Ele segurava o Mx, jornal gratuito distribuído de segunda a sexta nas estações de trem. Estudei sobre esse tipo de publicação na faculdade. No Brasil, a cultura dos jornais gratuitos não pegou. Em outros países eles são comuns, principalmente nos meios de transportes. É o caso da Austrália, ou pelo menos de Sydney, com o Mx. A ideia é lucrar apenas com a publicidade, mas é importante que o jornal circule, não sendo lido por apenas uma pessoa. A intenção é que o ele não vá para o lixo depois de ser lido, o leitor deve apenas deixar o jornal em algum local para que, mais tarde, outra pessoa pegue para ler. O problema do Mx é o conteúdo. Ele trata basicamente de celebridades e curiosidades sem grande relevância. Tudo bem que a intenção é entreter quem está voltando para casa à tarde, após trabalho ou estudo, mas a solução para distrair os leitores poderia ser encontrada de maneira mais útil. Ignácio pegou o jornal quando sentou no trem. Na sua frente, uma australiana.

Sem trocar palavra alguma, ele reconheceu: aquela era uma típica aussie. Ele estuda as australianas desde que chegou. É encantado por elas. De fato, elas são demais. 75% delas seguem um padrão de beleza. No máximo, as garotas dessa taxa variam em apenas uma das suas características. Olhos azuis, pele bronzeada, corpo sempre em forma e os cabelos, loiros. Não é apenas isso que se tem para falar a respeito dos cabelos delas. O estilo das madeixas douradas é único, o que faz a minha preferência pelas morenas ser momentaneamente deixada de lado nessas terras. Parece que andam pelas ruas da maneira que levantaram da cama. Não se preocupam em dar forma ao cabelo e desfilam daquele modo. Pode parecer estranho para algumas pessoas, mas para mim e para o Ignácio isso dá um ar irresistível de naturalidade. Ignácio diz se sentir como que acordando ao lado delas quando se aproxima de belas cabeleiras despenteadas. As garotas dos outros 25% não são bonitas, talvez descendentes de povos muito distintos.

O caso é que a garota, que estava de acordo com todos os requisitos das aussies e usando um vestido colado e curtíssimo (como é de costume por aqui), estava olhando para Ignácio. Por cima das folhas do Mx, ele via a garota o observando. Ignácio, conhecedor das atitudes femininas, interpretou o olhar dela como sendo de quem pensava: "vou olhar para ele de maneira que seja discreta, mas que ele perceba para eu ver se ele corresponde". Analisando a situação desse modo, Ignácio endireitou sua postura, certificou-se que seu cabelo estava como deveria, cruzou as pernas com um ar de segurança e retribuiu o olhar. Passadas duas estações, os olhos já haviam se cruzado inúmeras vezes. Não havia tempo para esperar, ela poderia descer nas próximas estações e em seguida ele chegaria ao seu destino. Ignácio deveria agir para alcançar seu objetivo, sair com uma australiana. É bem verdade que ele já havia tido um encontro bem sucedido com uma bela aussie. Aquela do trem, no entanto, não era morena. Seria sua primeira australiana legítima!

North Sydney Station. Ela não desceu. A sorte parecia estar do seu lado. Aquela era a hora, uma parada mais longa. Ele teria tempo de se aproximar e improvisar um papo. Assim que o trem voltou a se deslocar, ele sentou ao lado da garota.

- Olá. Você é australiana, não é? - Ignácio iniciou.
- Sou sim, e você? - o tom sem grande interesse inibiu Ignácio.
- Eu não... - respondeu, perdendo a segurança.
- Então de onde é? - perguntou surpreendentemente impaciente.
- Sou do Brasil - tenso, teve de fazer uma pausa para pensar no improviso - Na verdade eu cheguei há poucas semanas aqui e não conheço muito da cidade, então resolvi perguntar se você tem tempo para dar uma volta por aí um dia desses.
- Tenho sim - Ela respondeu em um tom ainda mais sério. Toda a confiança natural do galanteador havia desaparecido, apesar de ela responder positivamente. A loira demonstrava total desinteresse, sequer havia olhado para ele durante o diálogo. Acima de tudo, Ignácio estava confuso com a reação da garota.
- Então o que você acha de deixar o número do seu celular comigo para a gente marcar alguma coisa, talvez conhecer um restaurante diferente? - Ignácio sabia que poderia estar sendo direto demais, mas não encontrou nada melhor para falar. Ele estava desconfortável, estranhando o diálogo. Porém ainda havia alguma chance; ela havia olhado demais para ele.
- Eu disse que eu tenho tempo para sair, mas não disse que quero gastar esse tempo contigo! - finalmente a australiana havia olhado para Ignácio. No entanto, ele preferia não ter sido alvo daquele olhar. A aussie havia mirado o garoto com uma expressão de superioridade e um tanto de desprezo.
- Mas... - Sem saber o que fazer com tanto constrangimento, Ignácio tinha vontade de pular nos trilhos. Sentia-se realmente inferior sem entender o que se passava - Mas eu achei que você estava me olhando...
- Eu estava esperando você largar o jornal, já que não estava lendo. Esta é a minha estação. Deixe-me ir. Agora posso finalmente ler? - falou arrancando o jornal de Ignácio sem esperar permissão.

12 comentários:

  1. só faltou colocar o cavalinho do pânico... credo que horror, que grosseria! :S
    coitado do Ignácio!

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  2. Meu amigo não creio neste post...coitado do seu amigo, lendo aqui me senti apreensivo e com vergonha por ele, a situação deve ter sido realmente constrangedora. Mas parabéns pro cara ele teve a coragem que muitos não teriam...

    Você descreveu a mulher australiana e eu lembrei de um filme que vi semana passada, "Passe livre" , nele o ator principal tem uma queda por uma australiana linda conforme você descreveu. Mais tarde descobri que o nome dela é Nicky Whelan , achei um dos poucos links onde ela está de "roupa" rsrs da uma olhada se corresponde ao que se vê em Sydney e posta pra gente.

    http://tinyurl.com/4mtvtz7

    Abraços

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  3. hoEIUHEOIUEHIE

    TOCO!!!

    acontece com os melhores pegadores :)

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  4. Coitado do Seu Amigo ehen . se eu lendo isso ja fiquei Com Vergonha Imagine ele que Passou Por isso. Bom Saber esse comportamento das australianas agora . assim quando Chegar ai vou pensar bem antes de Chamar uma para Sair !

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  5. ehhhh.. mais isso rola aqui tbm...
    nao deu sorte nessa...
    mais ele está certissimo, tem que chegar firme mesmo... mais ke essa era uma grossa, essa era...
    ele devia ter ido embora com o jornal, soh pra sacanear kkkk
    abraçooo

    Helton Santana

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  6. e quando aparece um gringo por aqui as minas fazem de tudo pra agradar!

    os caras são assim também?

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  7. Eh, Willian. Esse eh um bom exemplo de australiana.
    Na verdade ele deu azar mesmo, pq nao eh um comportamento padrao. Como disse o Helton, rola no Brasil tambem. Faltou sorte e sobrou confianca...

    Abracos!

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  8. ahahaha...fogo coitado, mulher é mesmo cruel :(

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  9. nada como um não para "buscar" um sim!!!! não desista!!!!welton.

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  10. Gente que loucura, mas um dia da caça outro do caçador ... rsrsrsr.
    Falando sério, fiquei com peninha dele, mas... força na peruca e não desita eh, queremos novas e emocionantes histórias, quem sabe uma de caçador..r.srs
    Bj

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