quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Contrastes após o retorno

Há mais de dois meses de volta ao Brasil, sinto uma saudade imensa da vida australiana. A satisfação de ter vivido tanta coisa positiva contrasta com uma pontinha de tristeza por saber que tudo aquilo não volta. Por mais que Sydney, Bondi, Oxford Steet, Artarmon, George Street, Hyde Park, as festas de cada noite e muito do que fez parte desse ano de 2011 continue lá, o momento não volta. Boa parte dos que conviveram comigo já não estão mais lá. Mesmo com a certeza de revê-los em um futuro próximo, sempre sobrará esse lamento em cada um de nós.

Sigo recebendo e-mails de quem lê o blog e que procura dicas pois logo devem embarcar para essa experiência. A cada conselho e sugestão, muita coisa volta à lembrança e provoca essa saudade. Falar com os amigos que há pouco faziam parte do nosso dia-a-dia e agora estão distantes seguindo seus rumos causa o mesmo sentimento.

Tem também o lado social. A cabeça não é a mesma de antes. Não estamos mais acostumados a estar dentro da realidade daqui. O carnaval, agora, provou muito isso. O jeito do brasileiro é diferente. Com suas peculiaridades positivas ou não, não é possível voltar a esse mesmo padrão de comportameto e de pensamento. Na praia, tomada por jovens, as pessoas pareciam todas iguais. Muito disso acaba refletido na estética. Qualquer variação que fosse estranha ao modelo de comportamento é julgada como inferior. Alguém vestindo calça jeans à tarde na praia, ou com um biquini muito grande, ou de pele muito branca, bem como pessoas altas ou gordas demais eram motivos de olhares e comentários maldosos. É muito presente essa obrigação de ser igual para ser aceito, o que é nada menos do que preconceito com o diferente.

Era admirável a liberdade que se tinha para ser do jeito que quiser ser. Não é somente por questões financeiras que as gurias chegavam a passar um ano inteiro sem ir a um salão de beleza. Aqui, uma ida às estéticas a cada doze meses parece absurdamente pouco para elas. Rola uma necessidade de corrigir o que o padrão diz ser errado. Muita plástica, maquiagem, academia... Muito tempo perdido com isso pensando apenas na aparência para estar de acordo com o modelo. É muita preocupação com o que as outras pessoas vão pensar. Quando se percebe que não precisa dessas coisas, cada um é o que é, sem intervenções desnecessárias. Bonito é agir naturalmente a ponto de se aceitar. Ouvi, há pouco tempo, uma música dizendo que a verdadeira beleza é aquela de quando se acorda. E realmente é.

Quando era madrugada, ainda acordados, íamos à loja de conveniência procurar algo diferente pra comer. Saíamos do jeito que dormiríamos algumas horas mais tarde. Com a roupa que usávamos em casa, atravessávamos uma série de ruas, andávamos pela Oxford Street, rua das mais badaladas todas as noites. Mas todos fazem assim por lá. Não é necessário adotar um estilo que não seja o seu. Enquanto, aqui, chega ao ponto de ouvir comentários por estar vestindo uma calça de moletom. Que coisa boa seria sair por aí de calça de moletom se essa for mais confortável que as outras!

Certa vez, em uma dessas madrugadas voltei pra casa e reparei no meu reflexo no vidro. Vestia uma camiseta verde limão, um calção bem curto da época da escola e um calçado verde limão que calcei improvisadamente na hora de sair. Ninguém havia reparado. Ninguém havia achado estranho, nem eu. A roupa mais confortável não seria estranha aonde quer que fosse. A partir dessa noite tentei por algumas vezes medir o limite dessa aceitação de variedades. A cada noite, eu e o pessoal, aumentávamos o grau de extravagância. Desistimos na vez em que, durante uma agitada noite de sábado, andei em meio à intensa movimentação das baladas vestindo a mesma roupa verde limão com o mesmo calçado e mesmo calção, mas também usando um chapéu de palha e carregando um Ursinho Pooh debaixo do braço. Havia muita gente pelo caminho, mas ninguém deu atenção para a maneira como eu andava. Satisfeito, voltei pra casa satisfeito e convencido de que ali a personalidade e o caráter eram mais importantes do que a primeira impressão.

No carnaval, então, naquela praia cheia do pessoal endinheirado em busca de status, seja lá o que sejam os tais status, ouço um velho conhecido falar rindo em tom debochado apontando para alguém distante: o que aquele cara tá fazendo de calça jeans aqui? Bateu um desânimo pra continuar a conversa, que acabou em seguida.

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Estou ansioso pra poder postar os demais textos da viagem. Faltam apenas as fotos de um amigo pra os posts ficarem completos. Então consigo encerrar o blog de uma maneira legal. Mas sigo disponível pra conversar com quem tiver dúvidas.

3 comentários:

  1. Adoro o blog, tiro muitas dúvidas! Que pena que não terá mais posts :s

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  2. Dan muitoooooooo bom seu texto!! Vou share!! E bem isso mesmo o que sinto! Faco das tuas palavras, a minha! Bjao carina

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  3. Adoreiii Danzinhooo Por essas e por outras o medo de voltar...saudades!xx

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