quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O porquê de viajar

Era o começo da tarde de sábado quando acordávamos após uma longa noite de curto sono. Emily, João e eu não poderíamos ficar em casa com tanto sol do lado de fora. Como fosse o auge do verão, o calor obrigava a evitar meias e tênis. Vestindo chinelo e regata, concluí que a boa estação estava definitivamente chegando. Fomos a Daling Harbour, uma das regiões de lazer mais procuradas de Sydney.

Uma baía contornada por alguns dos melhores restaurantes e bares da cidade, além de zoológico, aquário, cinema, shoppings, centros de eventos, casas noturnas... A paisagem compõe o cenário turístico perfeito. A localização faz Darling Harbour ser parte do coração da cidade. No entanto, mais do que cartão postal para visitantes, é lugar frequentado por todos, sejam turistas ou típicos ozzies. Passar uma tarde lá, apenas perambulando e olhando as gaivotas sobrevoarem as águas do oceano é suficiente para ter um ótimo dia.

Emily, amiga australiana, e João queriam que eu visse a novidade do local. Durante alguns meses, uma obra restringira o acesso a parte da área. Havia poucos dias, porém, que o espaço fora inaugurado. Um parque infantil. Aberto ao público como fosse uma praça de bairro no Brasil. Dezenas ou talvez centenas de crianças corriam, escalavam, escorregavam, giravam e se deslumbravam com o que estava ali disponível para elas. Eu, tão deslumbrado quanto os pequenos, lembrava dos clubes privados no Brasil e me encantava com a ideia de tudo aquilo poder estar ao alcance de todos.



A imagem de pequenas crianças com traços asiáticos, europeus, latinos e australianos tomando banho nas pequenas piscinas e fontes d'água, se atirando na tirolesa e rolando na areia limpa do parque retratou muito daquilo que compõe a vida e a cultura daqui. A qualidade dos brinquedos, o nível de lazer que era oferecido ao público, a igualdade entre raças e sotaques, a mistura de estilos e a indiferença em relação à condição econômica do outro estavam presentes naquele cenário. Naturalmente, as crianças brincavam com qualquer outra criança. Entre os pais, casais negros, brancos, de origem asiática, misturados e homossexuais pareciam observar tudo aquilo com a mesma naturalidade dos pequenos. Essa é a evidência da consciência que predomina aqui em relação às diferenças.

O pouco que se vê de um local, não importa qual seja, é suficiente para perceber que ali há muito para admirar. A possibilidade de comparar as atitudes dessas pessoas e as características desse local, que são novidade para mim, com tudo aquilo que já vi faz aumentar minha vontade de ver outras realidades. A satisfação vem no momento em que consigo entender que o jeito de ser daquele povo não é melhor nem pior que o do outro. Vem quando compreendo que aquelas pessoas não são nada a mais ou a menos do que as outras. A distância que existe e a situação à qual foram submetidas não fazem delas seres diferentes de mim, de um panamenho ou de um russo. Temos os mesmos sentimentos e sensações. Quem disse que aqueles que se divertem em parques modernos são melhores que as crianças que não tem comida ou luz em casa? Alguns tiveram um histórico de desenvolvimento mais favorável. No entanto, nenhum tem mais valor quanto o outro. Posso aprender mais conhecendo uma realidade difícil do que esta mais confortável que me acostumei a ver. Assim quebramos a estúpida existência da arrogância. Assim admitimos a igualdade com quem quer que seja. Deixamos de louvar valores fúteis ostentados pelos que se dizem melhores.

Diferenças são superficiais. Se aponto defeitos, devo saber que há algum motivo para isso. Se descubro os motivos dos defeitos, passarei a entender aquele povo, seja o mais rico ou o mais miserável. Eu estava prestes a escrever que esse entendimento me soava como o que eu teria de mais próximo da definição "oficial" de cultura. Na curiosidade, pesquisei rapidamente. A descrição mais genérica que encontrei foi essa: "cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade".

Viajar me faz sentir como que aprendendo mais do que com um livro nas mãos, em uma aula da faculdade ou assistindo televisão. Sinto-me menos desentendedor da sociedade e mais parte dela. Podemos aprender com tv, leituras ou cursos, mas a mais rica experiência é aquela que te faz por os pés em outras terras e sentir ao máximo o diferente. Não vejo forma mais eficaz nem mais prazerosa de adquirir esse conhecimento do que viajando, vendo com os próprios olhos a realidade e identificando as distinções culturais no próprio local, na raíz de cada povo. Não há local ruim para conhecer. Laos, Piauí e Austrália podem render experiências igualmente interessantes. Temos muito para ver.

Perguntam-me se gostaria de voltar à Austrália. Respondo que sim; rever o que esteve presente durante 2011 seria demais. Mas não seria minha prioridade até que eu vivesse outros sábados ensolarados, vendo crianças brincarem em parques modernos ou em praças sem recurso algum nesses tantos outros lugares que estão aí para serem vistos.

5 comentários:

  1. E ae Dani blz?
    Velho, bom ver q vc continua escrevendo, acabei de me atualizar em todos heheh.
    E pelo q vi vc postou esse as 5 da manha ? ahahahah
    Realmente nada se compara a vivenciar uma viagem, por mais que seja enriquecedor os livros e outros meios, poder sentir a viagem, poder compartilhar uma mesa com estrangeiros e ouvir deles como funcionam as coisas no país deles e eles perguntarem como funciona no nosso é muito diferente.
    Tenho aprendido a cada dia.
    Ótimo texto cara.
    Grande abs e saudades da galare -> a Ge, vc, a Clau, Nick, Marcio, Mi, Joao.

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  2. Dani, querido!
    Saudades sempre.
    Fico feliz de ver o quanto tu aproveita cada segundo de tudo que tu vive aí.
    Lendo o que tu escreve, fica muito claro a alma de jornalista que existe nos teus textos.
    Vou sentir muita saudades de abrir o face, ver que tem texto novo no Diário e abrir rápido para ler.
    Pode ter certeza que vou te acompanhar sempre, pois adoro a maneira como tu enxerga e passa para nós a vida.
    Um beijo de quem te admira muito.
    Regilove. bjs

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