Ao longo do percurso rumo ao sul de Sydney, observávamos os diversos bairros pelos quais nunca havíamos passado. Faltava menos de um mês para deixar a Austrália. Eu lamentava o fato de não poder conhecer cada rua e cada canto daqueles locais estranhos. Escolas, lagos, parques e igrejas ficavam para trás. Aquela visão rápida através da janela do trem seria, provavelmente, a única que teria daquilo tudo.
Sydney é gigante. Eu havia de me conformar. Afinal, não há tempo na vida para conhecer cada rua de cada cidade em todos os países do mundo. Isso é triste, mas ao menos teria o prazer de conhecer Cronulla Beach.
Calçadão de Cronulla |
Acabado o almoço, rumamos à praia. A imagem das crianças ainda com uniforme da escola levando suas pranchas de surf debaixo do braço reforçava a primeira impressão de Cronulla como fosse uma cidadezinha do litoral. Não parecia fazer parte de uma cidade grande e com ritmo acelerado.
A faixa de areia era extensa. Andamos ao sul para conferir o que havia. Contornamos a orla junto às rochas e resolvemos tentar o norte da praia. Alguns surfistas dividiam as poucas ondas que o mar proporcionava naquele dia quente.
Lado sul de Cronulla Beach |
Parte Norte |
Uma nuvem negra começava a se aproximar quando resolvi mergulhar. A água gelada era pouco convidativa, mas sempre é possível curtir um mergulho. Um desses casais de meia-idade estava na beira do mar quando eu me aproximava. O homem, de cabelos longos e grisalhos, olhos azuis e bermuda de surfista me olhou com ar amigável e um leve sorriso no rosto. Gosto de trocar ideia quando alguém se mostra agradável e receptível.
- A água parece estar gelada, mas acho que vale um mergulho... - comentei.
- Concordo. Daqui a pouco vou nadar um pouco também - afirmou com simpatia.
Trocamos mais poucas palavras. Suficiente para eu confirmar aquilo que imaginei quando o avistei. Um morador local que se vê satisfeito com uma vida simples no lugar que escolheu para morar. Aquele é um cara tranquilo. Feliz por ter o que tem. Ele sim sabe apreciar o que está ao seu redor.
O vento que já batia depois do mergulho não incomodou e nem ameaçou tirar valor do banho. É inexplicavelmente bom fugir de ambientes urbanos que lembram estresse, perturbações, pessoas mal-humoradas e apressadas. Juntar-se à natureza é a melhor forma de refugiar-se. Assim nos sentimos distantes de tudo que pode trazer preocupação. Assim vivemos momentos em que nos esquecemos que existem compromissos. Dessa maneira, aproveitamos a vida da maneira mais gostosa. Por isso aquele cara parece se sentir tão bem e tão satisfeito ali. Ele deve viver refugiado de preocupações e compromissos.
Antes de voltarmos à estação e rumarmos novamente ao agito e ao tumulto da cidade grande, fomos pegos pela chuva. Um temporal que me molhou mais do que o próprio mergulho no mar. Não havia chuva, vento ou mar gelado que incomodasse. Cronulla está longe de ser a praia mais bonita ou mais bem estruturada de Sydney. No entanto, não me preocupava com nada. Sentia-me como se fosse aquele cara de longos cabelos grisalhos. Talvez por me proporcionar essa sensação, Cronulla é a melhor praia que conheci em Sydney.
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