terça-feira, 15 de novembro de 2011

A melhor praia de Sydney

Escolhemos uma praia. Queríamos alguma que não conhecêssemos. Pesquisamos um pouco e Cronulla parecia agradar. Era uma das mais distantes do centro. Eu e Juliana, grande companhia que deixará saudades, pegamos o trem que nos deixaria no balneário após 40 minutos.

Ao longo do percurso rumo ao sul de Sydney, observávamos os diversos bairros pelos quais nunca havíamos passado. Faltava menos de um mês para deixar a Austrália. Eu lamentava o fato de não poder conhecer cada rua e cada canto daqueles locais estranhos. Escolas, lagos, parques e igrejas ficavam para trás. Aquela visão rápida através da janela do trem seria, provavelmente, a única que teria daquilo tudo.

Sydney é gigante. Eu havia de me conformar. Afinal, não há tempo na vida para conhecer cada rua de cada cidade em todos os países do mundo. Isso é triste, mas ao menos teria o prazer de conhecer Cronulla Beach.

Calçadão de Cronulla
Como fosse uma cidade a parte, Cronulla tinha vida própria. Um calçadão daqueles de pequena cidade litorânea convidou para uma caminhada. Ainda bem que havíamos deixado o almoço para quando desembarcássemos na estação. Olhamos alguns restaurantes até escolhermos o mais interessane. A escolha foi o tradicional Fish and Chips, prato com nada mais do que fritas e peixe.

Acabado o almoço, rumamos à praia. A imagem das crianças ainda com uniforme da escola levando suas pranchas de surf debaixo do braço reforçava a primeira impressão de Cronulla como fosse uma cidadezinha do litoral. Não parecia fazer parte de uma cidade grande e com ritmo acelerado. 

A faixa de areia era extensa. Andamos ao sul para conferir o que havia. Contornamos a orla junto às rochas e resolvemos tentar o norte da praia. Alguns surfistas dividiam as poucas ondas que o mar proporcionava naquele dia quente.

Lado sul de Cronulla Beach
Aprendi a fazer nada na praia. Antes eu não entendia como as pessoas suportavam ficar sob um sol escaldante fazendo absolutamente nada. Hoje, porém, posso esticar a toalha na areia e ficar lá, sozinho, acompanhado, quieto, conversando, lendo seja ouvindo música. Um momento de apreciação. Seja à natureza, à vida, à falta de compromissos... É bom demais não ter compromisso algum.

Parte Norte
A presença de poucas pessoas na praia fazia o cenário mais interessante. Deviam ser moradores locais. Habitantes da "cidade de Cronulla". Crianças recém saídas da escola chegando à praia com suas pranchas, casais de mais idade caminhando pela praça como se fosse um passeio habitual e o salva-vidas sem muitos banhistas para cuidar que limpava a praia calmamente.

Uma nuvem negra começava a se aproximar quando resolvi mergulhar. A água gelada era pouco convidativa, mas sempre é possível curtir um mergulho. Um desses casais de meia-idade estava na beira do mar quando eu me aproximava. O homem, de cabelos longos e grisalhos, olhos azuis e bermuda de surfista me olhou com ar amigável e um leve sorriso no rosto. Gosto de trocar ideia quando alguém se mostra agradável e receptível.

- A água parece estar gelada, mas acho que vale um mergulho... - comentei.
- Concordo. Daqui a pouco vou nadar um pouco também - afirmou com simpatia.

Trocamos mais poucas palavras. Suficiente para eu confirmar aquilo que imaginei quando o avistei. Um morador local que se vê satisfeito com uma vida simples no lugar que escolheu para morar. Aquele é um cara tranquilo. Feliz por ter o que tem. Ele sim sabe apreciar o que está ao seu redor.

 O vento que já batia depois do mergulho não incomodou e nem ameaçou tirar valor do banho. É inexplicavelmente bom fugir de ambientes urbanos que lembram estresse, perturbações, pessoas mal-humoradas e apressadas. Juntar-se à natureza é a melhor forma de refugiar-se. Assim nos sentimos distantes de tudo que pode trazer preocupação. Assim vivemos momentos em que nos esquecemos que existem compromissos. Dessa maneira, aproveitamos a vida da maneira mais gostosa. Por isso aquele cara parece se sentir tão bem e tão satisfeito ali. Ele deve viver refugiado de preocupações e compromissos.

Antes de voltarmos à estação e rumarmos novamente ao agito e ao tumulto da cidade grande, fomos pegos pela chuva. Um temporal que me molhou mais do que o próprio mergulho no mar. Não havia chuva, vento ou mar gelado que incomodasse. Cronulla está longe de ser a praia mais bonita ou mais bem estruturada de Sydney. No entanto, não me preocupava com nada. Sentia-me como se fosse aquele cara de longos cabelos grisalhos. Talvez por me proporcionar essa sensação, Cronulla é a melhor praia que conheci em Sydney.

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