sábado, 7 de abril de 2012

Viagem pela costa - Final - O céu de Cairns

Mãos agarradas no colete, óculos de proteção no rosto e posição conforme havíamos sido instruídos. A porta do avião já estava aberta. Nick seria o primeiro a saltar, um americano seria o segundo e eu iria na sequência. As ilhas do oceano azul pareciam pequenas lá de cima. O sol brilhava entre as poucas nuvens que nos cercavam. Eu já estava sentado com as pernas para fora do avião em movimento. O vento forte e o barulho do motor se misturavam com alguma coisa que o instrutor falava. Foi aí que ele me empurrou.

A Austrália tem a maior barreira de corais do mundo. Cairns, no norte da costa leste, é conhecida pelas opções de mergulho na grande barreira. Por descuido em nosso cronograma, perdemos a chance de mergulhar. Conformados com a perda da oportunidade, ainda tínhamos outra programação, a qual me interessava ainda mais. Eu teria a melhor sensação da minha vida lá em Cairns.

Cairns é uma cidade maior do que aquelas por onde havíamos passado durante as duas semanas de viagem. Nossa última parada tinha uma lagoa artificial em frente ao mar como a de Airlie Beach em função do mar impróprio para banho. Rafting, mergulho e trilhas por morros e cachoeiras são algumas das principais atrações da cidade. Seria, no entanto, outra opção que encerraria nossa viagem da melhor maneira possível, o salto de pára-quedas.

Mais uma vez, acordaríamos às seis horas da manhã. Pegaríamos um ônibus da empresa de skydive rumo à praia de Mission Beach. Era lá onde saltaríamos. O tempo não parecia ajudar. Com céu fechado, chuva e vento forte, não haveria possibilidade de saltarmos. Todos no ônibus estavam preocupados e com medo de perder a oportunidade. Seria o primeiro salto da maioria de nós, isso, claro, se o tempo melhorasse muito.

Tempo ruim durante a viagem a Mission Beach
Em duas horas de viagem, a chuva havia diminuído. Ainda receberíamos as instruções e aguardaríamos a divulgação da ordem dos saltos. O céu ainda encoberto por pesadas nuvens seguia preoupando, até que um dos instrutores informou:

- Não se preocupem com o tempo, Mission Beach tem dezesseis quilômetrosde extensão. Só precisamos achar uma pequena área sem nuvens para realizarmos os saltos.

As dezenas de pessoas que aguardavam para saltar foram divididas em grupos. Um único avião faria seis voos e nós estávamos no último grupo.

As decolagens já haviam começado. Bastava esperarmos nossa vez.

Durante a espera conheci um dinamarquês que se aproximou quando soube que eu era brasileiro. Queria saber sobre nosso país, sua situação econômica e as perspectivas de crescimento do ponto de vista de um brasileiro. Ouviu tudo o que eu tinha a dizer. Ele estudava economia e comércio exterior e admitiu o interesse em conhecer o Brasil com expectativa de aproveitar a força que o país vem ganhando. Quando questionei sobre o salto de paraquedas (ele havia saltado no primeiro grupo que decolou), sua expressão mudou.

- Foi assustador! Não gostei e não faria de novo, pois o pavor foi maior do que a diversão - contou.

O dinamarquês explicou que sempre tivera medo de altura, decidira saltar para superar seus limites. Tratava-se de um desafio pessoal.

Ele não era o primeiro a me falar sobre o medo no momento do salto. Garantiram-me que eu não manteria a calma na hora. Eu, no entanto, não conseguia temer o que estava por vir, talvez apenas por não saber exatamente do que se tratava.

Quatro horas da tarde, após muita espera, chegava a nossa vez. Fui apresentado ao paraquedista que saltaria comigo. No caminho para a pista de decolagem, procurei me informar sobre o que enfrentaríamos dentro de alguns instantes. Seriam 14 mil pés, equivalente a mais de quatro mil metros de altura no momento em que saltaríamos. Três quilômetros em queda livre, quando atingiríamos 200km/h. Os números impressionavam e superavam o que eu imaginava, mas o sentimento ainda era de excitação.

Chegávamos próximos aos 14 mil pés. Queria saber o que o paraquedista, como profissional, sentia no momento.

- Eu salto desde 1995 e já não sinto a mesma coisa que você está prestes a sentir. Mas ainda me divirto muito!

Mãos agarradas no colete, óculos de proteção no rosto e posição conforme havíamos sido instruídos. A porta do avião já estava aberta. Nick seria o primeiro a saltar, um americano seria o segundo e eu iria na sequência. As ilhas do oceano azul pareciam pequenas lá de cima. O sol brilhava entre as poucas nuvens que nos cercavam. Eu já estava sentado com as pernas para fora do avião em movimento. O vento forte e o barulho do motor se misturavam com alguma coisa que o instrutor falava. Foi aí que ele me empurrou.

De olhos abertos, mergulhei em queda livre. A adrenalina extrema não dava chances ao medo. A quatro quilômetros do chão, a queda ganhava velocidade rapidamente. Mesmo a duzentos quilômetros por hora, a terra não parecia ficar mais próxima. Havíamos girado algumas vezes assim que saímos do avião antes de estabilizarmos a queda com barriga e rosto virados para a terra. Com a habilidade do paraquedista, fizemos algumas manobras durante a longa queda livre. O vento intenso trazia uma sensação de liberdade jamais sentida. Era a natureza na sua forma mais pura em contato total com meu corpo.

A mil metros do solo, ele abriu o paraquedas. Foi como se, em uma fração de segundo, fôssemos lançados para cima tamanha queda de velocidade que sofremos. Pairávamos no ar. Se antes sentia adrenalina, parecia que o sentimento de paz passava a predominar com o paraquedas aberto. O barulho intenso do vento dera lugar ao silêncio de uma descida cheia de leveza.

- Agarre aqui e puxe para a direita - falou o instrutor oferecendo a alça do equipamento.

Com poucas instruções, ele explicou como controlar o equipamento e direcionar o voo da maneira que eu quisesse.

- Essa é a melhor experiência que já vivi. Muito obrigado! - Agradeci ao instrutor diante de tanta emoção.

Aterrisamos suavemente na areia de Mission Beach. A viagem acabara da melhor maneira possível.

Em poucas horas, voltaríamos ao céu de Cairns. Dessa vez, retornando a Sydney. 

Menos de uma semana depois, eu estaria novamente nos ares. Embarcaria sozinho, de volta pra casa.

A viagem chegava ao fim.

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