sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Viagem pela costa - parte 1 - As partidas

Duas semanas e meia antes de voltar ao Brasil, começa uma viagem. João, Nícolas e eu estaremos ainda mais juntos do que durante os últimos seis meses, quando dividimos quarto, trabalhamos lado a lado e fomos companhia garantida para sair. Duas semanas de mochila nas costas e ônibus Austrália acima pela costa leste. Na outra meia semana me despedirei de uma época que não voltará mais, mas que seguirá conosco em lembranças e em nosso modo de viver.

No dia seguinte, chegaremos a Byron Bay, primeiro destino, após 12 horas de estrada. Quase uma hora depois da partida, os olhos acompanham pela janela o anoitecer chuvoso, passando por pontos marcantes da cidade. Como que uma despedida antecipada da minha mais recente casa. Os olhos seguem observando o afastar dos prédios enquanto a mente se distancia algumas semanas à frente vendo o último tchau dos amigos.

Eles deixarão saudades. Não fossem os amigos, a vida na Austrália não seria do jeito que foi. Quando nos afastamos de casa, nos distanciamos das velhas companhias. Fazem falta. E essa lacuna tem de ser preenchida. É uma necessidade natural essa de ter alguém ao lado. Alguém que esteja junto na hora da diversão e de pedir ajuda. Não há tecnologia que supere a distância geográfica. Trabalho, escola e casa facilitam o encontro com pessoas na mesma situação, predominantemente estudantes estrangeiros que deixaram suas vidas recentemente e que também enfrentam a mesma falta de amigos e família. A vontade de suprir essa necessidade intensifica incrivelmente qualquer aproximação e faz essas pessoas conhecerem-se a fundo e tornarem-se amigos para o resto da vida de maneira muito rápida. Se a distância inevitável que acontece com o retorno impede que se mantenha essa convivência, a lembrança do que se viveu em um dos momentos mais fortes da vida eterniza cada situação e o jeito de cada um desses amigos.

Os amigos do lado de cá se envolvem nas histórias uns dos outros e acompanham seu desenrolar mais do que qualquer uma das velhas companhias quando, de repente, voltam à vida de origem. Do dia para a noite. É triste voltar sem poder acompanhar um amigo até o final de sua jornada. Formam-se grupos fortes. Parceiros que se conhecem detalhadamente. Sabem os sonhos uns dos outros, bem como os caminhos já percorridos e os planos de vida e as ideias daqueles que nada planejam.

Dois franceses que conhecemos são exemplos daquela intensidade de aproximação. Luc era amigo de João de algum tempo atrás e agora voltou à Austrália. Max conheceu Luc assim que chegou a Sydney. Quando Luc passou a morar improvisadamente conosco, Max veio junto. Dois a mais. Formamos um time. A vida virou de cabeça para baixo. Não paramos um segundo sequer, ainda mais depois que deixei definitivamente o restaurante. O ânimo dos franceses, a simpatia, a alegria e a agradável companhia deles deu ainda mais vida a este final de ano. Na hora perfeita, conhecemos duas pessoas que, em duas semanas, viraram amigos, daqueles cuja presença marca nas melhores lembranças. Daqueles cuja presença foi fundamental para escrever minha história aqui. Dos que deixarão saudades e que provocarão um aperto por saber que não os acompanharei até o final de suas jornadas. Mas não há nada de que reclamar, somente agradecer. Afinal, temos ainda uma bela viagem pela frente. Amanhã estaremos em Byron Bay.

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